quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

Homem é vírgula; mulher é ponto final.




Esse texto foi escrito pelo Xico Sá, escritor, jornalista e colunista da Folha. Não é perfeito!?



"Hora de retrospectiva da gramática amorosa no apagar das luzes deste 2012.
Repitam comigo, esses moços, pobres moços: sim, homem é frouxo, só usa vírgula, no máximo um ponto e virgula; jamais um ponto final.
Sim,  o amor acaba, como sentenciou a mais bela das crônicas de Paulo Mendes Campos: “Numa esquina, por exemplo, num domingo de lua nova, depois de teatro e silêncio; acaba em cafés engordurados, diferentes dos parques de ouro onde começou a pulsar…”
Acaba, mas só as mulheres têm a coragem de pingar o ponto da caneta-tinteiro do amor. E pronto. Às vezes com três exclamações, como nas manchetes sangrentas de antigamente ou no samba de Roberto Silva: SANGUE, SANGUE, SANGUE!!!
Sem reticências…
Mesmo, em algumas ocasiões, contra a vontade. Sábias, sabem que não faz sentido a prorrogação, os pênaltis, deixar o destino decidir na morte súbita.
O homem até cria motivos a mais para que a mulher diga basta, chega, é o fim!!!
O macho pode até sair para comprar cigarro na esquina e nunca mais voltar. E sair por ai dando baforadas aflitas no king-size do abandono, no cigarro sem filtro da covardia e do desamor.
Mulher se acaba, mas diz na lata, sem mané-metáfora.
Melhor mesmo para os dois lados, é que haja o maior barraco. Um quebra-quebra miserável, celular contra a parede, controle remoto no teto, óculos na maré, acusações mútuas, o diabo-a-quatro.
O amor, se é amor, não se acaba de forma civilizada.
Nem aqui nem Suécia.
Se ama de verdade, nem o mais frio dos esquimós consegue escrever o “the end” sem pelo menos uma discussão calorosa.
Fim de amor sem baixarias é o atestado, com reconhecimento de firma e carimbo do cartório, de que o amor ali não mais estava.
O mais frio, o mais “cool” dos ingleses estrebucha e fura o disco dos Smiths, I Am Human, sim, demasiadamente humano esse barraco sem fim.
O que não pode é sair por ai assobiando, camisa aberta, relax, chutando as tampinhas da indiferença para dentro dos bueiros das calçadas e do tempo.
O fim do amor exige uma viuvez, um luto, não pode simplesmente pular o muro do reino da Carençolândia para exilar-se, com mala e cuia, com a primeira criatura ou com o primeiro traste que aparece pela frente."


E não percam nosso último programa de 2012, dia 22 de dezemvro... isso se o mundo não acabar, claro!!!

 

3 comentários:

  1. Cara Samantha, tb li o texto do Xico e concordo plenamente, nós somos um bando de frouxos. O mundo devia ser mais como o Leblon, e os homens deviam ser mais como o Zé Mayer.

    No entanto as mulheres, às vezes, é que complicam o simples, enfim...Segue o link para um texto do meu blog que tem um pouco a ver com isso.

    Bjo

    Pedro

    http://www.boraver.com/2012/12/vicky-cristina-leblon.html

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  2. Oi Samantha!

    Muito bom o texto. Por vezes eu percebo que tanto homens como mulheres pulam a parte do "luto " de fim de relacionamento. É uma pena pois pausar e pesar é preciso para seguir e não cometer velhos erros.
    Acho que é difícil tanto para homens e mulheres encerrar ciclos amorosos. Botar um ponto final na história. Mas concordo que geralmente as mulheres o fazem.

    Beijos

    Selma

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  3. Lindeza.. amei demais a postagem.. se importa se eu mostrar no blog? bjs e ótima quarta

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